Como, Itáília: diversas facetas de uma cidade

ÔÇ£O cenáírio mais inebriante que eu vi atá® agoraÔÇØ. Foi assim que o poeta Mark Twain definiu o lago de Como em 1869. Se á® possá¡vel descrever o lago dessa maneira, á® igualmente surpreendente andar pela cidade sem saber exatamente para onde olhar.

Náúo á® de hoje que a cidade de Como á® uma das metas turá¡sticas mais renomadas da Itáília. Localizada perto da divisa com a Suá¡áºa, entre os Alpes e o vale do rio Pá│, na Lombardia, Como tem uma forte tradiáºáúo na indá║stria tá¬xtil e na manufatura de seda. Nos á║ltimos anos, o turismo se fortaleceu especialmente por conta de personalidades como George Clooney, Madonna, Gianni Versace (entre outros) que residem em vilas luxuosas em volta do lago. Mas a cidade, obviamente, náúo se reduz a isso e encanta pelas cores, pela beleza, pela tranquilidade que transmite.

Em Como, vocᬠencontra um pouco de tudo. Ou melhor, tudo de tudo: existe aqui uma vida cultural intensa, rica e variada.

Alessandro Volta

Para entender melhor a alma da cidade, á® necessáírio saber quem á® Alessandro Volta, uma vez que boa parte dos pontos turá¡sticos e monumentos faz homenagem a este ilustre cidadáúo. O sobrenome náúo háí de parecer táúo estranho, ao contráírio. O termo ÔÇ£voltÔÇØ para ná│s á® algo táúo corriqueiro que nem nos damos conta de que carrega uma grande histá│ria: Volta (1737 ÔÇô 1798) foi o inventor da pilha elá®trica. Seus estudos, segundo Albert Einstein, sáúo a base fundamental de todas as invenáºáÁes sucessivas no mundo cientá¡fico.

Para dar uma ideia de como foi grande a contribuiáºáúo de Alessandro Volta para o meio cientá¡fico, uma das histá│rias mais conhecidas conta que, passeando de barco pelo Lago Maggiore, em Angera, o fá¡sico, que estudava quá¡mica e eletricidade atmosfá®rica havia dois anos, descobriu o gáís metano cutucando com uma vara o fundo do lago, de onde se desprendia um gáís que chamaria de ÔÇ£ar inflamáível dos páóntanosÔÇØ. Volta realizaria, posteriormente, estudos que resultaram na criaáºáúo da pistola de Volta, um dispositivo para medir a foráºa de uma explosáúo.

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Um dos pontos turá¡sticos imperdá¡veis que o celebra á® o Tempio Voltiano, onde á® possá¡vel conferir documentos e materiais sobre a sua vida e conhecer os instrumentos cientá¡ficos originais. A construáºáúo neocláíssica á® fascinante. Do lado de fora, os jardins pá║blicos frequentados constantemente pelos cidadáúos e turistas dáúo um tom especial a um passeio ao longo do lago.

Náúo muito longe dali, vale a pena visitar a casa do fá¡sico no centro histá│rico da cidade e conferir a Piazza Volta, onde se encontra a linda estáítua de máírmore em sua homenagem, datada de 1838 e inaugurada por Pompeo Marchesi, um dos mais cá®lebres escultores da á®poca. O local traduz a Como mais vivaz: crianáºas brincando pelas ruazinhas, velhinhos com os seus jornais, cafá®s com mesas nas caláºadas, lojas, bares e aquele burburinho gostoso e charmoso das cidades pequenas.

Como entre passado e presente

Em Como, passado e presente se complementam num diáílogo constante. Descoberta e conquistada pelos romanos, desde cedo representou um polo medieval de prestá¡gio em virtude da importáóncia do lago para a navegaáºáúo e tambá®m para a defesa dos territá│rios da regiáúo do rio Pá│.

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Museu da Seda

Náúo menos importante para o status da cidade foi a produáºáúo de tecidos. O setor tá¬xtil ao longo dos sá®culos foi sempre táúo marcante na regiáúo que, atualmente, Como continua sendo reconhecida como a capital mundial da seda. Inclua na sua programaáºáúo uma ida ao Museo della Seta que abriga antigos maquináírios, teares, utensá¡lios e tecidos que contam a histá│ria de uma tradiáºáúo cultural centenáíria de trabalhos com a seda do fim do sá®culo XIX atá® as á║ltimas dá®cadas do sá®culo XX. O museu á® tambá®m palco para eventos culturais e tem um ponto de venda de produtos relacionados ao universo tá¬xtil.

Torre Gattoni

A cidade á® repleta de monumentos histá│ricos que váúo desde o sá®culo XII atá® o sá®culo XX. Um excelente exemplo deste encontro á® a Torre Gattoni, local onde Volta conduziu seus primeiros experimentos cientá¡ficos, por volta de 1765, e o maravilhoso Life Eletric, de Daniel Libeskind, construá¡do em 2015. A obra tem 16 metros de altura, estáí posicionada no prá│prio lago e se inspira na tensáúo elá®trica entre dois polos de uma bateria, brincando com as curvas em movimento que refletem a cidade.

Porta Torre

Se vocᬠᮠdaqueles que gosta de viajar ainda mais no tempo, a ideia de conhecer uma fortaleza de 1192 á® bastante empolgante! Testemunho incrá¡vel da á®poca medieval, a Porta Torre tem 40 metros de altura, era usada como entrada da cidade para os que vinham de Miláúo e fazia parte do sistema defensivo da cidade junto com a muralha, cujos restos ainda estáúo bem conservados, muito embora tenha atravessado os sá®culos entre edificaáºáÁes e destruiáºáÁes, desde o perá¡odo romano atá® a invasáúo dos austrá¡acos.

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Palazzo Broletto e Duomo de Como

Outro ponto imperdá¡vel á® o Palazzo Broletto, de 1200, de estilo gá│tico-romano. No perá¡odo medieval, era a sede da comuna da cidade, mais tarde abrigou o arquivo histá│rico e um teatro. Atualmente recebe mostras artá¡sticas e congressos. Ao lado, a Catedral de Santa Maria Assunta, cuja construáºáúo comeáºou em 1396, com o projeto de Lorenzo degli Spazzi. Em estilo gá│tico-lombardo que se mistura ao renascimental, o exterior da catedral á® inteiro de máírmore liso e elementos decorativos. O Duomo levou nada menos do que 400 anos para ser concluá¡do: de 1396 a 1734. O interior reserva tapeáºarias dos sá®culos XV e XVI, pinturas e afrescos que confirmam a sua beleza estonteante. Náúo deixe de registrar o á│rgáúo de 1932 da casa Balbiani Vegezzi Bossi de Miláúo.

Fontana di Carmelata

E tem mais. A Fontana di Carmelata, obra arquitetá┤nica e artá¡stica de Cesare Cattaneo e Mario Radica, de 1936, á® uma composiáºáúo de elementos circulares e esferas que parecem brincar nessa geometria e sáúo embaladas pelas áíguas.

Termas Romanas

Para terminar esse vai e vem entre passado e presente, complete a sua visita áá histá│ria com um pulinho nos quase 1.500 m┬▓ das Termas Romanas, da primeira metade do sá®culo I d.C. Graáºas a minuciosas obras de recuperaáºáúo, á® possá¡vel visitáí-las com um percurso sobre passarelas elevadas que permitem ver os restos do que foi escavado e os gessos recuperados.

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As mansáÁes majestosas

áë impossá¡vel passear por Como e náúo notar a riqueza arquitetá┤nica atravá®s da qual a cidade vai contando a sua histá│ria e deixando entrever a sua personalidade.

Como á® cheia de mansáÁes muito charmosas que dáúo um ar aristocráítico áá cidade e refletem os mais variados estilos. Um á│timo exemplo disso á® a Villa Olmo, a mais imponente das mansáÁes da cidade: á® um grande complexo de arquitetura neocláíssica que hospeda manifestaáºáÁes culturais e mostras de arte, alá®m de contar um amplo parque e um lido ideal para relaxar. O nome vem de uma áírvore centenáíria, o olmo, que áá á®poca da edificaáºáúo da vila estava ali. A vila jáí teve há│spedes como Napoleáúo Bonaparte, Giuseppe Garibaldi e Ugo Foscolo.

Háí outras: Villa Sucota, Villa Saporiti, Villa Gallia e Villa del Grumello.

A Villa Gallia á® a mais antiga e foi construá¡da como residá¬ncia de versáúo do abade Marco Gallio, em 1615.

Os mercados e gastronomia

Na Piazza Cavour, na beira do lago, os turistas tá¬m a oportunidade de visitar diversos mercados localizados no centro histá│rico, ao longo das muralhas medievais e no lago, cada um com propostas diferentes. áë o caso do Mercato dellÔÇÖAntiquariato e do Mercato dellÔÇÖArtigianato, assim como mercados focados em enogastronomia, mercados de produtores locais que oferecem uma grande variedade de itens de excelente qualidade.

A culináíria tradicional de Como convida os turistas a experimentar pratos ligados ao territá│rio, ao lago e áás montanhas. áë o caso, por exemplo, da polenta gialla, acompanhada de carne, peixes do lago (a grande especialidade tá¡pica sáúo os misultitt) ou queijos ÔÇô para os ÔÇ£queijá│latrasÔÇØ de plantáúo, uma variedade de queijos como o semuda, zincarlin e triangolo del Lario. Náúo deixe de provar o azeite extravirgem Dop Laghi Lombardi-Lario e os vinhos tintos e brancos da regiáúo.

Mais cultura

De fato, a cidade respira cultura. Sáúo váírios os teatros, entre eles o Teatro Sociale, inaugurado em 1813 e palco dos grandes intá®rpretes da má║sica cláíssica e da á│pera. Recebe tambá®m espetáículos de prosa, danáºa e outros concertos.

áë possá¡vel visitar diversos museus como Museo Archeologico Paolo Giovio, o Museo Storico Giuseppe Garibaldi e a Pinacoteca Civica.

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Háí ainda cinemas com exibiáºáÁes diurnas e noturnas como o Spazio Gloria, Cinelandia e Cinema Astra. Falando em cinema, se vocᬠestiver com a sensaáºáúo de jáí conhecer um pouco do Lago de Como, á® porque ele foi cenáírio do Episá│dio II da saga Star Wars! áë naquele terraáºo do planeta de Naboo que Padmá® e Anakin resolvem se casar em segredo.

Depois de conhecer a cidade de Como, uma das opáºáÁes á® pegar o barco, passear pelo lago e atracar em Lenno para conhecer a famosa Villa del Balbianello, cujo parque serviu de cenáírio para o filme.

A cidade conta com iná║meras atraáºáÁes e oportunidades que agradam todos os gostos. áë possá¡vel respirar a Como medieval e, ao mesmo tempo, admirar as obras recentes do sá®culo XX que revelam a modernidade da cidade. Em cada canto da cidade, existem aspectos culturais e histá│ricos que náúo podem ser deixados de lado. Lembre-se que as melhores á®pocas para conhecer a cidade sáúo primavera e outono, justamente porque no veráúo tudo fica lotado e muito se perde da vivá¬ncia do lugar.

Para que a viagem fique bem gravada na memá│ria, depois de conhecer todos esses lugares, finalize a experiá¬ncia a bordo de um barco pelo lago. Háí duas opáºáÁes de transporte: os barcos particulares, que custam Ôé¼ 300 e levam 12 passageiros, e pá║blicos que percorrem as cidadezinhas prá│ximas (o valor das passagens varia de Ôé¼ 1,30 a Ôé¼ 14,80 dependendo do trajeto escolhido).

Deu para perceber que Como á® uma daquelas viagens inesquecá¡veis e especiais. áë o tipo de cidade que te faz sentir em casa e, ao mesmo tempo, no mundo.

Por Marina Pasquarelli Perez
Foto de capa: Boris Stroujko / Bigstock